Sócrates fala em "nova parceria" e mostra confiança em Angola

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"Foi um grande prazer conhecer o primeiro-ministro José Sócrates, que não conhecia. Fiquei bastante bem impressionado: é uma pessoa de convicções fortes." Com esta declaração, o Presidente de Angola disse tudo, marcando politicamente a viagem que o primeiro-ministro está a efectuar, e que será certamente recordada pelo ambiente de grande cordialidade que ontem transpareceu dos contactos entre José Sócrates e José Eduardo dos Santos.

Se o objectivo confesso do primeiro-ministro era criar um relacionamento pessoal com o líder angolano, esperando que isso ajude as empresas e empresários portugueses a conseguir novas oportunidades de negócio em Angola, então pode dizer-se que Sócrates conseguiu o que queria. Como se comprova pelo facto de o encontro com o Presidente de Angola ter aberto a visita de Sócrates, mas também por Eduardo dos Santos se ter reunido com ele a sós durante 45 minutos, o que é, por si só, pouco habitual.

Mas se isso não fosse suficiente, bastaria estar atento às declarações que o Presidente angolano fez, na conferência de imprensa conjunta no Palácio da Cidade Alta, minutos depois da assinatura de alguns acordos entre os dois governos. A começar pelo facto de Eduardo dos Santos ter sentido a necessidade de se antecipar a algumas perguntas, fazendo questão de trazer a questão das presidenciais e das legislativas angolanas à colação antes que alguém lhe perguntasse, garantindo que as eleições serão "ainda este ano ou, o mais tardar, no próximo".

Um sinal para Portugal, mas também para a comunidade internacional, a que Sócrates respondeu, manifestando a sua confiança no "processo de consolidação das instituições angolanas".

A partir daqui, Eduardo dos Santos passou ao inventário do muito que está por fazer na economia angolana, numa mensagem com destinatário óbvio: as empresas e empresários portugueses. "Angola", frisou, "importa quase dois terços do que consome. Mas o que nós gostaríamos é que maior parte dos produtos que importamos passassem a ser cá produzidos. Por isso, gostaríamos que as empresas portuguesas se instalassem no nosso país e criassem algumas parcerias."

Para trás tinham ficado já sete acordos de natureza institucional, entre os quais dois muitos especiais, envolvendo montantes razoavelmente significativos e que prevêem a triplicação do crédito às exportações para Angola (passa de 100 para 300 milhões de euros) e um incentivo de 100 milhões de euros de incentivos para quem pretende investir na economia angolana. Dois gestos elogiados por Eduardo dos Santos, para quem estas duas novas linhas representam uma prova de confiança na economia angolana, onde ainda existem "espaços que não estão totalmente preenchidos". Razão pela qual fez questão de ir mais longe: "As empresas portuguesas estão convidadas a instalar-se em Angola."

Tudo porque Luanda está disponível para aumentar a quota do investimento privado português, sabendo como isso poderá ser crucial para que as autoridades angolanas possam recuperar as infra-estruturas necessárias para garantir o abastecimento de água ou energia, facilitando também a circulação interna dos angolanos. O que permitiria aos governantes enfrentar as eleições com outro ânimo, quatro anos depois de celebrados os acordos de paz com a UNITA, sem que o dia-a-dia dos angolanos tenha conhecido melhorias significativas, como, aliás, é visível a quem circule em Luanda e observe a degradação da cidade.

Em qualquer dos casos, Sócrates aproveitou a oportunidade para tirar da manga uma das carta guardada para a ocasião, anunciando que Portugal vai enviar 200 professores para Angola já no próximo ano lectivo. O que significa que Lisboa terá, como o Governo já reconheceu, de ter os concursos prontos até ao Verão, de forma a que os professores possam estar em Angola no início de 2007, quando se inicia o ano lectivo.

Sócrates, que não escondia a satisfação pela forma como estava a conseguir relacionar-se com Eduardo dos Santos, considerou mesmo que a visita selava "uma aliança e uma nova parceria" entre os dois Estados, não hesitando em referir-se à "Agenda de Luanda". Uma referência ao acordo que Portugal e Angola estabeleceram no sentido de os seus ministros passarem a reunir-se de forma regular, aproveitando para estreitarem também os seus laços pessoais, salvaguardando eventuais obstáculos que possam surgir no relacionamento bilateral.

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